Arte para imprimir em embalagens metálicas
Na indústria de embalagens, o método de impressão utilizado na produção de latas metálicas é conhecido como litografia. No entanto, é preciso esclarecer que este nome não é totalmente correto porque não é um método único, dependendo do tipo de fabricação da embalagem existem dois sistemas de impressão.
Enquanto na produção de latas de folha de flandres se aplica o sistema Offset (o mesmo sistema que se utiliza na impressão de revistas a cores), na fabricação de latas de alumínio é usado o sistema Dry Offset, também conhecido como Letterset, método que alia as melhores características do sistema Offset com as do Letterpress. Da combinação de ambos os nomes, Letterpress e Offset, é que provém seu nome, Letterset.
Mas por força do hábito, para referir-se a qualquer um dos métodos, basta chamá-los de litografias. É um costume originário nas origens da imprensa.
Um pouco de história
Por volta de 1439, o ourives alemão Johannes Gutenberg revelou ao mundo ocidental, através de sua Bíblia de 42 linhas, a prensa de tipos móveis de madeira, antecessora do Letterpress ou Linotipo, processo ainda utilizado em algumas gráficas para imprimir notas fiscais, recibos, etc.
A prensa de Gutenberg consistia em uma superfície plana sobre a qual se diagramava a composição de uma página dentro de uma caixa com tipos móveis. Deste modo era possível imprimir diferentes páginas utilizando os mesmos tipos. No entanto, os elementos decorativos e ilustrações que faziam parte da composição da página, deviam ser feitos à mão pelo pincel de algum artista talentoso.
O fato de reproduzir à mão os elementos decorativos da página a cada cópia, resultava num trabalho enorme e ao mesmo tempo limitava o desenvolvimento industrial da impressão. Isso levou os pioneiros da indústria gráfica a desenvolver um sistema que lhes permitisse reproduzir ilustrações.
Assim nasceu, no final do século XVIII, a litografia, técnica que basicamente consistia em desenhar de forma inversa sobre uma base de pedra, polida com uma matéria gordurosa, a ilustração a ser reproduzida, ilustração que podia combinar texto e desenho. Logo após o desenho, aplicava-se sobre a pedra um composto de elementos químicos para afixar a imagem desenhada, e finalmente colocava-se tinta também sobre a pedra, para imprimir sobre o papel apenas as áreas livres da matéria gordurosa que naturalmente ficavam manchadas com a tinta. Desde aquele tempo começou a se denominar como litografia qualquer trabalho gráfico, independente do método que fosse aplicado.
Posteriormente foram introduzidas melhorias nestes sistemas de impressão direta, ou seja, transferência da imagem desde a matriz de impressão diretamente ao papel, com o propósito de aprimorar a produtividade, até chegar o momento em que foi inventado o sistema Offset de impressão indireta, no qual a matriz transfere a imagem para uma blanqueta de borracha de impressão que, pela suavez, transfere a imagem ao substrato de impressão. O sistema Offset se apoia no mesmo princípio de incompatibilidade recíproca entre a água e matérias gordurosas da litografia, com a diferença de que em lugar de utilizar uma pedra plana como matriz utiliza uma chapa flexível metálica, geralmente de alumínio, coberta por uma emulsão fotossensível sobre a qual previamente se grava a imagem.
As características do sistema Offset deram à indústria a possibilidade de imprimir mais de uma cor ao mesmo tempo, alcançando deste modo impressos de melhor qualidade, uma vez que a blanqueta de borracha apresenta mais adaptabilidade sobre os diferentes materiais ou substratos, e uma mais perfeita definição.
Na atualidade, o método Offset é amplamente empregado na impressão de material gráfico de alta qualidade, como folhetos e catálogos, utilizando impressoras para seis ou mais cores, com a possibilidade de adicionar mais recursos para cores especiais, vernizes ou segmentação dos diferentes acabamentos.
As impressoras para este tipo de trabalho são alimentadas por papel folha a folha, enquanto que nas Offset rotativas, que imprimem em alta velocidade, se utilizam bobinas para imprimir jornais e revistas, material impresso, note-se, com pouco tempo de vida útil.
Offset para embalagens
No caso da impressão em latas de folha de flandres, estas são montadas unindo três diferentes partes pré-fabricadas: o fundo, a tampa e o corpo. Antes da montagem é possível utilizar o método Offset convencional para imprimir sobre o corpo, uma vez que, antes do recipiente adquirir sua forma definitiva, a parte do corpo se apresenta sob a forma de lâminas metálicas planas, tal como as folhas de papel nas que se imprimem revistas e catálogos, o que torna possível imprimir cada cor no seu módulo, separadas por uma estação de secado UV. Isto permite imprimir no sistema CMYK (quadricromia) com mais uma ou duas cores especiais com uma qualidade de imagem superior, tal como no Offset tradicional.
Ao longo da história, a impressão sobre latas de alumínio (de uma só peça), tem sido um desafio complicado para a indústria de artes gráficas por ser o alumínio, entre outras características, um metal com capacidade de absorção maior que a folha de flandres, o que causa borrões nas imagens impressas.
Somado a isso, considere-se que a fabricação de latas de alumínio é feita numa linha de produção, onde a unidade de impressão – composta por uma máquina de lacagem, uma impressora e uma máquina de envernizar – é apenas uma das várias unidades que compreendem uma linha de produção que fabrica em torno de 80 latas por minuto com um mínimo de intervenção humana.
Ademais, devemos levar em conta que, ao contrário da produção de embalagens de folha de flandres, a impressão sobre a lata de alumínio é posterior à sua forma definitiva, quer dizer, deve-se imprimir sobre uma superfície cilíndrica, com uma única possibilidade de imprimir em 360 ° todas as cores de uma vez. Esta propriedade não permite imprimir uma sequência de cores, uma vez que não há possibilidade de registro entre as placas de impressão.
As peculiaridades que apresenta o processo de produção das latas de alumínio, levaram à procura de um método de impressão que permitisse manter o ritmo da linha produtiva, que pela sua vez conseguisse plasmar todas as cores a um mesmo tempo, e que mantivera uma qualidade de definição de imagem razoável.
Inicialmente tentou-se utilizar o Offset convencional com o princípio da incompatibilidade absoluta entre a água e matérias gordurosas. Porém, o uso da água no processo de impressão causava problemas para manter a impressão uniforme durante a produção. Por outro lado não era viável aproveitar-se do uso de tintas com propriedades de opacidade melhoradas como, por exemplo, a tinta de cor branca.
Essa limitação levou os técnicos a experimentar a troca das placas Offset por clichês fotopolímeros com relevo, como se utiliza no Letterpress para, desse modo, ter a possibilidade de eliminar o uso da água. Assim foi como se originou o método de impressão Dry Offset (Offset seco), o Letterset.
Tendências
Em geral, a indústria gráfica é um setor de atividade em desenvolvimento contínuo, na qual se introduzem melhorias diariamente objetivando aperfeiçoar a produtividade, aprimorando a definição da imagem impressa, e dando ao mercado um produto mais atraente no seu aspecto visual. Concomitantemente, vai substituindo materiais contaminantes por outros mais em harmonia com os devidos cuidados com o meio ambiente.
Quanto ao desenvolvimento produtivo, podemos mencionar as possibilidades de desenvolvimento tecnológico de maquinário com possibilidades de regular a espessura da camada de tinta e da pressão dos rolos entre si e sobre a chapa de maneira mais afinada, máquinas com um maior número de cores possíveis para imprimir e máquinas automáticas mais velozes. Além disso, no campo da pré-impressão, se destaca o desenvolvimento de tramados especiais para obter semitons com uma maior fidelidade na reprodução do original. Neste ponto, a mudança mais importante que vem se massificando na última década, notadamente na impressão Offset, é a substituição do processo fotográfico de câmeras de filme pelo sistema Computer-To-Plate (CTP), mudança que se traduz numa redução significativa dos tempos de preparação das chapas, o fim do uso de produtos químicos e de filmes, bem como uma reprodução sem distorção ou ganho de ponto a partir do original para a chapa de impressão. No que diz respeito à proteção do meio ambiente, a mudança no uso de tintas à base de solventes para o de tintas à base de água, tem sido a mais importante, não só para os cuidados com o meio ambiente, mas também para a saúde dos operadores gráficos, severamente afetada no passado pelo contato com os solventes utilizados tanto no fabrico de tintas quanto na limpeza das impressoras.
No caso das tintas, tem havido grande desenvolvimento na manufatura de tintas com efeitos especiais, tais como as tintas termocrômicas que mudam de cor em função da temperatura: em temperatura ambiente não tem cor (invisíveis) e, uma vez submetido o impresso a baixas temperaturas, todo detalhe impresso com elas se torna visível com alguma cor escolhida pelo cliente, até retornar novamente a temperatura ambiente.
Outras tintas similares são as de efeito ultravioleta (UV) que iluminadas com luz normal resultam invisíveis, tornando-se de cor violeta fluorescente quando o impresso é iluminado com luz ultravioleta. Resultados similares apresentam as tintas fluorescentes sob a luz UV.
A impressão em embalagens e recipientes metálicos não ficou alheia à evolução da indústria gráfica. Nela também tem se incorporado a maior parte dessas mudanças e melhorias, tanto no Offset utilizado em fábricas de latas de folha de flandres, quanto no Dry Offset utilizado nas fábricas de aerossóis de alumínio.
Com anos de experiência na indústria de produção de embalagens metálicas, os operadores gráficos se superam a cada dia, tanto na operação do maquinário quanto no domínio das técnicas de impressão, como assim também no conhecimento adquirido a respeito dos insumos que utilizam: tintas, lacas, vernizes, mantas, chapas fotopolímeras, etc.
No entanto, como uma estrada que nunca chega ao fim, um longo caminho está à frente porque o desenvolvimento da indústria gráfica é permanente, e acompanhado em sinergia com a melhoria das técnicas de impressão nas embalagens de metal.